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Já Não Mais!

  • Foto do escritor: Kanela Ideias
    Kanela Ideias
  • 24 de fev. de 2019
  • 6 min de leitura

Atualizado: 25 de fev. de 2019


Nunca me cansei de coleccionar os nossos momentos desde que surgi. Sim, falo daqueles que me abraçam. Considerem isso como uma mania, minha.


Tenho-os, todos juntos, como um álbum de fotos no canto do armário. Pensamentos e sentimentos em pequenos cartões; retratos munidos de angústia. Uma melancolia que nunca deixa de florir.


E é por isso que vos escrevo. Careço de espaço e não tenho alento para procurar por um. São tantos que já não sei o que fazer com eles. Deitar? Quem é o vencedor que se vê livre das suas medalhas?


As pequenas relíquias são prova do que fiz, elas são o que eu sou.


Apenas peço…


Peço que as guardem. Guardem-nas bem, esses pedaços de mim. Tem esses aqui. Não. Talvez esses, sim, esses podem levar:


Eu nem sei por onde começar,

mas a verdade é que eu não estou a dar conta da pressão sobre os meus ombros. Está difícil me manter de pé, não consigo sequer enumerar os meus problemas.

Está tudo muito complicado, não consigo fazer mais nada.

Toda energia que tenho é sugada por nada. Sim, por um nada. Sinto-me facilmente fatigada, mas ñ consigo descansar. O pouco que faço é com muito esforço. Não consigo dar conta de mim, tenho travado estes dias todos, ou então meses na luta comigo mesma... Aparentemente estou bem, tão bem que consigo por vezes ludibriar a mim mesma....E eu, não consigo. Eu não quero ouvir conselhos, estou um pouco farta. Só precisava de falar, para desabafar. E é isso, dá-me imensa vontade de apagar esta mensagem.





Eu zangava-me com tudo e com todos...

E isso piorava cada vez mais. Eu achava que aquilo era a coisa mais normal do mundo. Se eu me zangasse com alguém, eu meio que "guardava" essa pessoa e levava essa mágoa mais além. Para mim, essa pessoa já era, estava marcada.

E, sem saber, eu guardei muita mágoa e muito rancor de muitas pessoas.

Tudo isso já estava a pesar (sem que me apercebesse) e, com a depressão que tenho/tinha e as crises de ansiedade, piorou tudo, tudo mesmo.

Aquilo fez-me tão mal, um dia, que, só hoje, pude perceber o quão tóxico eram as minhas atitudes. Aquilo tornou-me nalguém fraco. Eu usava aquela armadura enorme, pois eu era um ser fraco (que se escondia por detrás dela).


Eu já não podia mais viver com aquilo. A minha alma estava tão cansada! Chamava pelo meu coração a todo momento. Porém, meu coração não a ouvia. Estava demasiado ocupado a odiar...

Mas hoje... hoje, não. Hoje, eu parei e conversei com os dois. Eu já vinha andando por tanto tempo à procura de respostas e, as pessoas às quais perguntei, sempre me diziam para ouvir o meu coração. Mas eu não percebia, pois nunca parei para olhar suas dores, o fel que carregava, a mágoa que guardava, tudo aquilo que impedia a nossa comunicação.


Hoje... hoje, eu decidi perdoar-me. Sim, perdoar-me e perdoar àqueles que um dia me fizeram mal. Perdoar, não porque essas pessoas mereçam tal perdão, mas porque eu não posso mais guardar rancor e mágoas e nem carregar essas pessoas — essas coisas pesam de mais. Vou perdoar-me por tudo aquilo por que me culpei. Ontem, eu era inteligente e queria o mundo, mas hoje... hoje, não. Hoje, sou sábio e quero conhecer-me à mim próprio.

Eu percebi, hoje, que mereço todo amor que dou.

Hoje, eu percebi que meu coração não era feio, o mundo é que me fez acreditar que sim.

E, hoje, eu consigo ver que o meu coração é tão grande que transcende o meu corpo.

Eu já não preciso mais daquela armadura. Meu coração, hoje, é forte, o suficiente para não trocar paz por guerra nenhuma.




E ainda que, nos momentos ruins, tenha medo de mim mesmo...

Ainda que esteja numa guerra, em que o meu principal inimigo sou eu próprio...

Ainda que eu esteja perdido...

Ainda que beba de todas as felicidades do mundo e continue infeliz...

Ainda que esteja rodeado do mundo e continue só...

Eu, realmente, tenho que perceber que sou o único responsável por tudo que acontece em minha vida.

Eu tenho medo...

Há quem diga que eu tenho medo de perder o meu medo...

Mas não...

Meu maior medo sou eu próprio...

Meu maior medo é não achar o que procuro...

Eu procuro paz...

Mas, se, o que procuro, eu não achar, primeiro, dentro de mim mesmo, não acharei em lugar algum...

Eu preciso de me conhecer...

Preciso de viajar pelo meu eu mais profundo...

E se, um dia, eu lá chegar, ainda que lá exista uma só palavra, espero que me traga paz.




Vamos, Kanela!


Lutar contra a depressão não é algo fácil. Pior, nesta sociedade em que nos encontramos.

Sendo uma doença que tem várias causas que, também, são colocadas de lado (o bullying é um exemplo) torna a tarefa de erradicá-la um desafio ainda maior. É preciso mudança em quase todos aspectos. Uma nova atitude!


Em Moçambique, temos a jovem moçambicana Palloma que é uma activista e decidiu nutrir as suas ideias no campo da saúde mental. Embora estudando na Índia, muito longe de casa, pautou pelo espírito de uma nova atitude perante a dificuldade que verifica e teve a iniciativa de criar o movimento Eu, Tu e a Depressão – ETEAD.


Eis algumas questões que fizemos a ela acerca de si e do movimento:



O Que É O ETEAD?


O ETEAD (Eu, Tu e a Depressão) é um movimento que visa consciencializar a sociedade moçambicana sobre a saúde mental.


O que fazemos é usar redes sociais e meios de comunicação convencionais, assim como palestras e workshops, para ensinar as pessoas o que são certos distúrbios que afectam a saúde mental, como lidar com eles sendo a vítima e ou familiar, amigo, namorado ou conhecido de uma vítima, e por aí.


Também damos suporte emocional, uma espécie de ombros onde as pessoas podem desabafar, falar do que lhes incomoda e serem percebidas, mas acima de tudo, ajudar essas pessoas a chegarem à ajuda profissional, esse é o culminar da nossa ajuda “emocional”.



Qual É O Motivo Da Criação Do Movimento?


Criei o ETEAD porque percebi que as pessoas não sabem lidar com doenças mentais e com quem as tem. É normal ouvirmos coisas tipo “vai passar; és forte; confia em Deus” e tudo isto pode até ser verdade, mas não é o simples facto de dizermos isso que fará com que a gente melhore, subitamente. E o estigma, o estigma faz com que várias pessoas sofram em silêncio e eu tenho muita vontade de melhorar isto.



Como Gere, Estudando Fora Do País?


Tenho uma team que me ajuda a fazer tudo que quero fazer. Tenho, também, das pessoas mais compreensíveis e que me apoiam bastante, como a minha mãe e o meu namorado.


Não é fácil. Existe muita frustração que advém de não poder estar nos lugares como gostaria, mas não há muito que possa fazer acerca disso. Então, eu vou gerindo. É complicado, mas nunca impossível, quando se tem garra e vontade de tornar sonhos, realidade.



E Quem Quiser Fazer Parte?


O movimento não está a recrutar ninguém, ainda, mas, assim que o fizermos, tornaremos público. E achamos que activismo pela saúde mental pode ser feito todos dias e sem necessariamente se juntar a nós ou quem quer que seja, desde que estejamos cientes da necessidade de espalhar o bem e a compreensão, e que ponhamos isso em prática, diariamente, já estaremos a ajudar um monte de gente.



O Que Podemos Esperar Do ETEAD?


O ETEAD quer poder fazer mais pela área, começamos o ano com um retiro emocional que achamos importante porque vai ensinar as pessoas a lidarem com seus problemas mentais e emocionais; pretendemos ir para pelo menos uma província diferente da que estamos baseados (Maputo); pretendemos ainda juntar a cultura, a arte e o amor à nossa visão e trazer algo super especial para vocês no final do ano, fiquem atentos :).






Conselho Para Quem Depressão


Se tivesse que dar um conselho às pessoas que têm depressão, diria para procurarem ajuda. Falarem com alguém que confiam e posteriormente com um profissional de psicologia.


Caso não se sintam à vontade ou tenham dúvidas e/ou receios, nós estamos super abertos para conversar; as nossas redes sociais estão abertas 24/7.




A Líder Da ETEAD


O meu nome é Palloma Matusse. Tenho 23 anos e sou moçambicana. Sou a mais velha de 3 filhos. Estou neste momento no último ano de Relações Internacionais, a estudar na Índia.


Uma feminista, activista pela saúde mental, pelos direitos humanos, sou uma entusiasta apaixonada pela literatura e por bebés.




KANELA IDEIAS

Unindo As Vozes Dos Jovens De Moçambique

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